Genomas da preguiça revelam desafios únicos de conservação na Mata Atlântica do Brasil

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Genomas da preguiça revelam desafios únicos de conservação na Mata Atlântica do Brasil

A Mata Atlântica do Brasil, que já foi uma vasta tapeçaria de floresta tropical costeira, diminuiu para apenas 8% do seu tamanho original devido ao desmatamento implacável para a agricultura e a urbanização. No entanto, dentro destes remanescentes fragmentados prosperam espécies diversas e resilientes, incluindo as preguiças-guará, criticamente ameaçadas de extinção. Duas espécies intimamente relacionadas, a preguiça-guará do norte (Bradypus torquatus) e do sul (Bradypus crinitus), habitam esta paisagem sitiada. Embora pareçam quase idênticos à primeira vista, os seus genomas contam histórias muito diferentes de sobrevivência num mundo em mudança.

Pesquisas genômicas recentes realizadas por cientistas do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem (Leibniz-IZW) e da ONG conservacionista brasileira Instituto Tamanduá oferecem insights cruciais sobre essas linhagens únicas de preguiças e ressaltam a necessidade urgente de estratégias de conservação personalizadas. Publicado na revista Molecular Ecology, este estudo investiga profundamente os “projetos” genéticos dessas preguiças, revelando o impacto tanto das antigas mudanças climáticas quanto das mudanças contemporâneas de habitat causadas pelo homem.

Um conto de duas linhagens de preguiça

Ao comparar genomas inteiros das preguiças-guará do norte e do sul, os pesquisadores descobriram padrões distintos que refletem suas histórias divergentes. A linhagem da preguiça do sul, que enfrenta atualmente um maior risco de extinção, apresenta menor diversidade genética e tamanhos históricos de população em comparação com a sua contraparte do norte. Isto sugere que as variações ambientais e climáticas do passado esculpiram estas populações de forma diferente.

No entanto, a linhagem da preguiça do norte, embora apresente maior diversidade genética e maiores números atuais, apresenta uma tendência preocupante: um rápido aumento na endogamia nas últimas décadas. Este desenvolvimento alarmante provavelmente decorre da fragmentação do habitat e do desmatamento impulsionado pela expansão humana na região.

Saúde genética sob ameaça

O estudo também revela que a linhagem do norte carrega um fardo mais pesado de “variantes genéticas deletérias” – mutações genéticas potencialmente prejudiciais à sobrevivência e à reprodução. Esta carga genética elevada, juntamente com a crescente crise de endogamia, representa uma grave ameaça à viabilidade a longo prazo desta população, a menos que sejam tomadas medidas imediatas.

Insights acionáveis para conservação

Estas revelações genómicas pintam um quadro cheio de nuances: cada linhagem de preguiça requer intervenções de conservação únicas, adaptadas aos seus desafios específicos. Preservar a diversidade genética nas populações e mitigar a endogamia são preocupações fundamentais para ambas as linhagens, mas as estratégias devem abordar as ameaças distintas que enfrentam. Para a preguiça-guará do sul, aumentar o tamanho da população através da restauração e conectividade do habitat pode ser crucial, enquanto mitigar a fragmentação e proteger as florestas remanescentes no norte é vital para a sobrevivência da linhagem do norte.

Esta investigação sublinha a importância dos estudos genómicos como uma ferramenta poderosa para compreender a vulnerabilidade das espécies e orientar esforços eficazes de conservação. Numa era marcada pela aceleração da perda de biodiversidade, esta imagem detalhada da saúde genética das preguiças-guará serve como um forte lembrete da urgência de salvaguardar tanto as suas linhagens únicas como os ecossistemas frágeis que elas chamam de lar.